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Foto do escritorDa Chic Thief

Entrevista #25 WOJTEK ŚCIBOR (Polónia)

Atualizado: 12 de abr. de 2023

PT

Depois da entrevista (bem recebida) com a Marina Aguiar, decidi convidar um novo fotógrafo a cada três meses, por forma a prestar uma justa homenagem a todos aqueles (que como eu) contribuem com parte do seu tempo para a divulgação e valorização dos artistas e writers que, com as suas obras, dão mais vida e cor às cidades.


Quando me iniciei nesta tarefa imensa de documentar a arte de rua, este foi um dos fotógrafos que logo captou a minha atenção, já que a sua obra conjuga muitas das temáticas de que sou fã.



Natural da Polónia, Wojtek Ścibor reside em Portugal desde 2016.


O seu gosto pela fotografia já tem uns anos, tendo evoluído de um meio para documentar as férias familiares para algo mais estruturado e que pretende explorar a nível profissional.



O fotógrafo é um adepto da fotografia analógica, tendo já participado numa exposição coletiva.


Tem como temas preferidos a paisagem e a arquitetura, procurando, sempre que possível, introduzir apontamentos de arte de rua nos seus instantâneos urbanos com um toque cenográfico.



O seu gosto pelo graffiti, aliado a uma vontade constante de evolução do seu trabalho, já o levaram a conhecer diversos writers.


Tem em preparação alguns projetos ligados à fotografia.



Fiquem a conhecê-lo um pouco melhor, na entrevista nº 25.


Em primeiro lugar, conta-nos um pouco sobre ti. O que te trouxe a Portugal? Quais são as tuas impressões sobre o nosso país?


A Polónia é de onde venho e desembarquei em Portugal em 2016, a pensar que seria bom desfrutar do clima por uns tempos. Gostei do país a ponto de não pensar em mudar-me ainda. O que mais me impressiona cá é como é fácil conhecer novas pessoas. Mas é o café, principalmente, que me mantém aqui! ;)


Tens formação em arte?


Não, nunca tive aulas nem estudei nenhum tipo de arte - tudo o que sei aprendi com outras pessoas, em conversas. Isso, por sua vez, influenciou como me sinto em relação à arte em geral.



Como começou o teu interesse pela fotografia?


Tudo começou nas férias e viagens de fim de semana de regresso a casa - eu queria ter algumas memórias com uma qualidade melhor do que aquela que os telemóveis anteriores a 2010 podiam oferecer. Agora não tenho a certeza, mas acho que comprei a minha primeira máquina fotográfica em 2010 ou 2011 e era para ser a minha ferramenta para capturar momentos felizes nessas viagens. E depois...


A fotografia já se tornou uma constante na tua vida (no dia-a-dia, em férias, ...)? Em que países já fotografaste e quais te marcaram mais?


E então fiquei interessado a ponto de tirar muitas fotos (más) de cenas sem pessoas. Isso significa que o meu interesse passou daqueles momentos felizes para arquitetura e paisagem, principalmente. Pouco antes de vir para Portugal, comecei a tirar cada vez mais fotos, mas estava focado na fotografia com telemóvel. Foi aqui que comprei novamente uma câmara e comecei a aprimorar as minhas habilidades e a aprender sobre o que realmente gosto de fotografar. Neste momento, a fotografia desempenha um papel fundamental na minha vida pessoal e também o faço profissionalmente como freelancer (nem sempre relacionado com o que sou conhecido).



Que máquina / material usas?


Ainda tiro fotos com o meu telemóvel, mas não tanto como antes. Neste momento, estou numa fase em que prefiro a câmara analógica à minha DSLR. Fotografo tanto a cores como a preto e branco, com mais preferência pelo BW, porque posso revelar o filme em casa. Eu também digitalizo todos os filmes revelados em casa - mais trabalho e mais satisfação.


Que fotógrafos influenciam o teu trabalho? Alguns portugueses?


Eu tento evitar dicas como "você deve fazer isso" ou "faça assim", já que descobri que certos tipos de influências não são adequados para todos, podendo ter mais efeitos negativos que positivos. Vou buscar inspiração a Sean Tucker e Evan Ranft, dois dos meus fotógrafos favoritos. Houve alguns fotógrafos portugueses que influenciaram a minha visão, mas afastei-me deles.



A tua namorada também fotografa. Para além de servirem de modelos um do outro, também trocam ideias sobre técnicas ou cada um tem um trabalho mais distinto e pessoal?


Eu acho que nós dois aprendemos muito um com o outro desde que estamos juntos e compartilhamos todas as ideias e dicas - achamos mais fácil trabalhar em conjunto e, dessa forma, só ficamos a ganhar. A título de exemplo, os zines e a modelagem recíproca são frutos da nossa cooperação e amor pela fotografia.


Recentemente, lançaram um canal de fotografia no Youtube. Queres fazer uma breve descrição deste novo projeto?


Sim! O canal é realmente dedicado à fotografia, lançámos 4 vídeos até agora e mais estão para vir. O objetivo é despertar o interesse de mais pessoas pela fotografia e incentivá-las a explorar essa arte. Estão em preparação várias aulas e vídeos das nossas diversas viagens.


Que papel têm as redes sociais na promoção do vosso trabalho? Utilizas outros meios para o efeito?


A rede social mais utilizada pelos fotógrafos é o Instagram, já que é a maneira mais fácil de compartilhar os teus trabalhos com o resto do mundo. No entanto, as mudanças recentes na sua funcionalidade, fizeram-me abandonar o uso de hashtags e concentrar-me em construir uma comunidade. Agora estou em retiro e, durante um tempo, não pretendo postar novos trabalhos em nenhuma das minhas contas das redes sociais, exceto no Flickr, que oferece uma ótima qualidade de imagem. Estou a trabalhar para compartilhar uma quantidade maior de meus trabalhos na forma física.


Comecei a acompanhar o teu trabalho pelas fotos de Lisboa e de graffiti. Que temas preferes fotografar? Paisagens, graffiti / street art ou pessoas?


Como mencionei acima, arquitetura e paisagem ainda são os meus assuntos favoritos para fotografar, mas gosto das cenas que misturam a arte de rua (principalmente ilegal) com as ruas típicas pelas quais podemos passar diariamente, de forma inconsciente, sem que nos apercebamos dela. Não quero inserir-me em nenhum género específico de fotografia, digo apenas "Sou fotógrafo".


Tem vindo a aumentar o número de aficionados por este tipo de fotografia. Achas que se está a tornar uma moda? Que conselho darias a quem se está a iniciar?


Os números aumentaram de facto. Não porque vemos mais graffiti, mas pela facilidade de tirar fotos hoje em dia. Alguns afirmam que o graffiti e a street art deveriam ficar na rua, mas, por outro lado, é ótimo poder mostrar a outras pessoas no mundo inteiro as obras locais.


Se eu puder dar um conselho, sugiro não alterar as cores na pós-produção e tentar preservar a perspectiva, a menos que se pretenda, realmente, um visual mais criativo. Quem quer seguir o caminho de documentar o mundo da arte de rua, deve dar sempre o crédito ao artista, ao compartilhar os seus trabalhos, e pedir o mesmo da sua parte. Tanto o fotógrafo como o writer / pintor / outro tipo de artista devem respeitar o trabalho um do outro. Isso aplica-se, especialmente, a obras em execução.



Qual é o teu top 3 de writers / artistas portugueses?


Gosto muito do estilo de Helio Bray, Latino 89 e Amor Kurtz .


E de writers / artistas estrangeiros?


Definitivamente um artista parisiense - Babs, entre muitos outros.



Qual foi aquela peça que te deixou deslumbrado?


Obras de Aryz, que vi na Polónia e em Portugal, e de Hopare.


E local?


Eu simplesmente adoro lugares abandonados. Se eles estão naquele estado de agonia irrecuperável, o graffiti só aumenta a aspereza do local.



O que mudou na cena do graffiti / street art desde que começaste a documentá-la?


O que muda, constantemente, são as camadas de tinta nas paredes, já que a CML se esforça cada vez mais para cobrir os graffs e os tags (com um resultado diferente do esperado ...).


Também tenho a sensação pessoal de que há cada vez mais artistas a afastar-se da obra encomendada, numa forma de protesto contra o uso da arte de rua para a promoção de ideais políticos. Muitas vezes, os artistas recebem uma parede e uma certa remuneração com a contrapartida que o trabalho siga algumas regras que não são bem aceites por muitos representantes do mundo da arte de rua. Infelizmente, isso leva a conflitos dentro da cultura.


Como descreves o panorama atual do graffiti / street art em Portugal?


Eu descrevo-o como rico e valioso, uma vez que há uma grande variedade de artistas mais velhos e mais jovens a trabalharem juntos, permitindo a coexistência de um conjunto de estilos diferentes. A mistura de obras legais e ilegais surpreende e atrai muitos apreciadores.



Tens alguma história que queiras partilhar?


Em 2018, tive muito mais tempo para percorrer os lugares e fotografar paredes novas e velhas. Eu sei o quão difícil é ter esse tipo de estilo de vida onde você faz o que ama e gostaria de dar o meu apoio a todas as almas artísticas que têm passado por momentos bastantes difíceis desde o ano passado. E eu desejo a todos os que tiveram que deixar a sua arte de lado por um tempo, que todos nós tenhamos a chance de voltar e desfrutá-la um dia novamente. Vamos ficar esperançosos e apreciar o que temos, tanto quanto possível!


Quais são os teus planos / projetos futuros?


Atualmente, estou a trabalhar na preparação de vários projetos, que não estão relacionados com a arte de rua mas sim com a fotografia analógica de arquitetura e paisagem natural. Aparte isso, estou a tentar organizar o meu tempo para voltar à rua como antes da pandemia e captar algumas cenas que envolvam grafitti de todo o tipo com detalhes das vivências diárias das pessoas.


Cumprimentos? Agradecimentos?


Big ups para o Obey e o Roteweiller, pela sua abordagem amigável há uns anos, quando eu estava a iniciar a minha jornada com a fotografia de arte de rua e pude aprender imenso com eles. O mesmo se aplica ao Acer, Frame, Skran e Trafic, com os quais tive longas conversas (não apenas sobre os tópicos usuais relacionados ao graffiti) e com quem passei bons tempos nessa altura.


Fotografias / Photos: Wojtek Ścibor


ENG

After the (well received) interview with Marina Aguiar, I decided to invite a new photographer every three months, in order to pay a fair tribute to all those (who like me) contribute part of their time to the dissemination and appreciation of artists and writers who give more life and color to cities with their works. When I started on this immense task of documenting street art, this was one of the photographers who immediately caught my attention, as his work combines many of the themes I'm a fan of.


Born in Poland, Wojtek Ścibor live in Portugal since 2016.


His taste for photography has been going on for a few years now, having evolved from a way of documenting family vacations to something more structured and that he intends to explore at a professional level.


The photographer is a fan of analogue photography, having already participated in a group exhibition.


His favorite themes are landscape and architecture, seeking, whenever possible, to introduce notes of street art in his urban snapshots with a scenographic touch.


His taste for graffiti, combined with a constant desire to evolve his work, have already led him to meet several writers.


Have some projects related to photography in preparation.


Get to know him a little better, in interview nº 25.


First of all, tell us a little about yourself. What brought you to Portugal? What are your impressions about our country?

Poland is where I come from and I landed in Portugal in 2016 thinking it would be nice to enjoy the weather for a while. I liked the country to the point I don't think about moving out yet. What is the most impressive to me here is how easy it is to meet new people. But it's mostly coffee that keeps me here! ;)

Are you trained in the arts?

No, never attended any classes or studies regarding any form of art - all I know I learned from other people, from conversations. This in turn influenced how I feel about art in general. How did your interest in photography start?

It all started from holidays and weekend trips back home - I wanted to have some memories in a better quality than pre-2010 mobile phones could offer. I am not sure now, but I think I bought the first camera in 2010 or 2011 and it was supposed to be my tool for capturing happy moments of those trips. And then...

Has photography become a constant in your life (on a daily basis, on vacation, ...)? In which countries have you photographed and which ones have marked you the most?

And then it got me interested to the point that I would take lots of (bad) photos of scenes without people. It means I switched my interest from those happy moments to mostly architecture and landscape. I became taking more and more photos shortly before coming to Portugal, but I was focues on mobile photography. It was here where I bought a camera again and started improving my skills and learning what I really like photographing. Right now photography plays a huge role in my personal life and I am also doing it professionally as a freelancer (not always related to what I am known for). What machine / material do you use?

I still take photos with my mobile, but not as much as before. Right now I am in that stage, where I prefer analogue camera over my DSLR. I shoot both color and black and white with more preference to BW, because I can develop the film at home. I also scan all the developed films at home - more work and more satisfaction. Which photographers influence your work? Some Portuguese?

I try to avoid the tips like "you should do this" or "do it that way", as I have found certain types of influences not suitable for everyone, they can make more bad than good effect. I take inspiration from Sean Tucker and Evan Ranft, two of my favorite photographers. There were some Portuguese photographers that influenced my vision, but I moved away from these.

Your girlfriend also photographs. In addition to serving as models for each other, do you also exchange ideas about techniques or does each have a more distinct and personal work?

I think we both learned a lot from each other since we are together and we share all the ideas and hints - we found it easier to work on this together and this way we can only gain something. As an example, the zines and modelling for one another are the fruits of our cooperation and love for photography. Recently, you launched a photography channel on Youtube. Do you want to give a brief description of this new project?

Yes! The channel is indeed dedicated to photography, we released 4 videos so far and there will be more to come. The aim is to make more people interested in photography and encourage them to explore the subject. In preparation are various lessons and videos from our bigger and smaller trips. What role do social networks play in promoting your work? Do you use other means for this purpose?

Social media for photographers is mainly Instagram, as it allows the easiest way to share your works with the rest of the world. However, recent changes to its functionality made me drop using hashtags and focus on building a community there. I am now in retreat and might not post new work for a while on any of my social media accounts, except Flickr, which offers great quality of image. I am slowly heading to sharing larger amount of my works in a physical form. I started to follow your work through the photos of Lisbon and graffiti. What subjects do you prefer to photograph? Landscapes, graffiti / street art or people?

As I mentioned above, architecture and landscape are still my favorite subjects to photograph, but I like to have some sort of a mix of street art (mostly illegal) and a typical street scene, which we might unconciously pass by every day, but never actually notice it. I do not want to categorize myself in any specific genre of photography, so I will just say "I am a photographer". What was that piece that dazzled you?

Works of Aryz which I saw in Poland and in Portugal, and those of Hopare. And location?

I simply love abandoned places and if they are in that unrecoverable state of agony, then graffiti only adds to the roughness of the location. What is your top 3 of Portuguese writers / artists?

I really like the style of Helio Bray, Latino 89 and Amor Kurtz . What about foreign writers / artists?

Definitely Parisian artist - Babs, amongst many others. What has changed in the graffiti / street art scene since you started documenting it?

What is constantly changing is the layers of paint on the walls, since CML is doing more effort to cover the graffs and tags (with different result than expected...).


There is also my personal feeling, that more and more artists turn away from the commissioned work as a way to protest against using street art to promote political sentiments. Often the artists are offered a wall and certain remuneration, but the work is expected to follow some rules that cannot be accepted by many representatives of the street art world. Unfortunately, this leads to conflicts within the culture. How do you describe the current landscape of graffiti / street art in Portugal?

I would describe it as rich and valuable, since there is such a wide range of older and younger artists often working together allowing for a set of different styles to coexist. The mix of legal and illegal works surely attracts and surprises many viewers. The number of fans of this type of photography has been increasing. Do you think it is becoming a fashion? What advice would you give to those just starting out?

The numbers surely increased, but not because we see more graffiti, but because of how easy it is nowadays to take pictures. Some claim the graffiti and street art should stay on the street, but on the other hand it's a great thing to be able to show to other people around the world the local works.


If I can be in the position of giving advice, then I would suggest not to alter the colors in post production and try to preserve the perspective, unless you really want to go for more creative look. If you want to go that way in documenting the street art world, then always credit the artist's work when sharing their works and ask the same from their side. Both the photographer and writer/painter/other type of artist should all respect each other's work. This especially applies to works in progress. Do you have a story you want to share?

Back in 2018 I had much more time to go around places and photograph new and old walls. I know how difficult it is to afford this kind of lifestyle where you do what you love and I would like to give my support to all the artistic souls out there who managed to go through even more difficult times since last year. And I wish for those who had to push their art aside for a while, that we will all have a chance to go back and enjoy it one day again. Let's stay hopeful and appreciate what we have as much as we can! What are your future plans / projects?

I am currently working on preparations for several projects, but they are not related to street art, but analogue photography with architecture and natural landscape. Other than that, I am trying to organize my time to go out on the streets like before the pandemic and capture some scenes involving graffiti of all sorts as a detail of everybody's daily life. Greetings? Thanks?

Big ups to Obey and Roteweiller for their friendly approach years ago, when I was starting my journey with street art photography and I could learn a lot with them. Same goes to Acer, Frame, Skran and Trafic, as I spent a lot of time with those guys and talking not only about the usual graffiti related topics and had really good time back in the days.

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