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Foto do escritorDa Chic Thief

Entrevista #131 FÉTOSZ (Brasil)

Atualizado: 1 de dez.

PT

A seguir aos convidados nacionais, os artistas / writers brasileiros são os que se destacam em segundo lugar nas minhas entrevistas. Para além da língua comum, que facilita a comunicação, tal deve-se ao facto de muitos deles terem escolhido o nosso país para residir ou passar as suas férias.



Habitualmente, é no cais do Ginjal que fico a saber quem está / esteve por cá. O lugar é uma galeria de arte a céu aberto, onde facilmente se acede de cacilheiro a partir de Lisboa.


No caso do Fétosz foi em Lisboa que tive um primeiro contacto com a sua arte, em pavilhões abandonados junto ao rio.



Natural de São Paulo, este artista multifacetado é conhecido pelos seus characters expressivos que distribui pelo graffiti, a pintura, a escultura ou a tatuagem.


Do seu currículo já constam algumas jams em locais simbólicos da arte urbana da capital.



Ultimamente, tem deixado as suas personagens pelos abandonados da Margem Sul.


Antes de mais, fala-nos um pouco sobre ti.


Tenho 37 anos e nasci em São Paulo, no bairro da Mooca. Cresci e vivi até os meus 12 anos no Jardim Independência, região próxima à Vila Prudente, Zona Leste de SP. Tive contato primeiro com a Pixação aos 9 anos, por conta dos amigos que, com 13, 14, 15 anos, já pixavam. Eu era ainda muito novo, então apenas os acompanhava nos rolês.

O bairro começou a ficar muito perigoso e minha família decidiu se mudar para a cidade de São Bernardo do Campo, onde, com 16 anos, comecei a fazer Graffiti.


Tens formação em arte?


Sim, me formei em 2012 em Artes Plásticas.



Quando começou o teu interesse pelo graffiti / street art e quais foram as tuas influências na altura?


Eu sempre gostei de desenhar e fui fazer graffiti com 16 anos. A minha influência foi o Magoo, que já pintava há muito tempo no Rudge Ramos, região onde vivi por muitos anos. Depois, participei por um tempo na mesma Crew que ele e também o Faim e Brutais, escritores de graffiti da minha região. Minhas influências vieram de todos os outros grafiteiros do Brasil que vieram antes da minha geração.


Qual é o significado do teu tag?


Féto era por conta de eu ser sempre o mais novo das pessoas com quem andava, com diferença de idade de 5 anos ou mais.


Mas Fetosz foi uma ressignificação dessa Tag. Eu acabei assinando por conta de que todos estamos aqui na evolução da vida, se desenvolvendo nesse mundo, até a hora que vamos nascer de verdade, quando essa jornada acabar.



Em quantos países já pintaste?


Até agora, só no Brasil e em Portugal.


Qual foi o sítio mais incrível em que já pintaste?


Em uma fábrica abandonada no alto do Ginjal, com vista para o rio Tejo e Lisboa.



Preferes o atelier ou a rua?


Primeiro, rua. E ateliê no inverno, acho melhor para produzir.


Quantas exposições já fizeste? Quando será a próxima?


18 exposições, por enquanto são essas. Estou ainda a me organizar para alguma futura exposição.



Como é o teu processo criativo e onde vais buscar as influências para as tuas peças?


Meu processo criativo vai muito de tentativa e erro, experimentando materiais diferentes até acertar alguma forma, ideia ou cores que me agradem.


Minhas influências, desde 2017, vêm da filosofia e de estudos da história da arte no geral e da humanidade. Acredito que a fonte vem dos antigos e seu legado, e nós, do presente, estamos dando continuidade a tudo isso.


Pintas com sketch ou freestyle?


Muitas vezes é com sketch e, dependendo da situação do dia, faço no freestyle.



O que toca na tua playlist quando pintas?


Rap, Reggae, MPB, músicas experimentais. Varia muito do dia também.


Também tens interesse pela tatuagem. É uma vertente a explorar?


Gosto bastante, por influência de muitos amigos profissionais na área que sempre me incentivaram a tatuar. É uma vertente que tenho muito respeito e ainda pretendo continuar. Mas, neste momento, estou voltado para outras áreas, como mural, canvas e escultura.



Como classificas o panorama atual do graffiti / street art em Portugal? Que diferenças encontras relativamente ao Brasil?


Mudou bastante, mas faz parte estar em constante evolução, e a qualidade dos artistas está cada vez melhor. Sinto que aqui ainda tem muita divisão entre escritores e quem faz personagens. No Brasil, esse tabu já foi quebrado há muito tempo; escritores, muralistas, todos ali passam por muitas situações pesadas e nem perdem tempo com esse tipo de treta. Ou se unem ou o sistema engole. Mas acredito que aqui em Portugal isso já está mudando bastante.


Qual é o teu top 3 de writers / artistas portugueses?


Aqui tem muita gente que manda super bem nos estilos!


Corleone  

Vhils  

Fire666  

Oker  

Kampus  

Bordalo II    



E de writers / artistas estrangeiros?


• Brutais

8ou80 (que esteja em paz, foi e será sempre um grande writer e artista)

Zeh Palito    


Com que writer / artista gostarias de fazer uma peça conjunta?


Tem muita gente com quem ainda quero pintar. Não tem um nome em específico.



Qual é aquela que consideras a tua melhor peça, aquela que te deu mais luta e aquela que ainda te falta fazer?


A melhor foi um trabalho que fiz em homenagem à minha filha. Minha filha e eu somos muito ligados, então, em meio à saudade de estar com ela e não poder, isso me trouxe a inspiração de pintar algo pensando nela. Nesse dia, era como se estivesse com ela, pois a todo momento pensava na minha filha. Essa pintura foi feita totalmente de coração.


Acho que toda arte nova também sempre é uma nova luta.


A que me falta fazer também será sempre a próxima ideia, pois sempre quero melhorar a cada novo trabalho.


Quais são os teus planos / projetos futuros?


Passei este ano de 2024 recomeçando a vida e me reestruturando. Pretendo, em 2025, estar mais voltado a murais e quero fazer uma exposição solo. Alguns projetos já foram enviados, então agora é fazer acontecer na disciplina e força de vontade.



Tens alguma história que queiras partilhar?


Teve uma vez, acho que em 2012, que uma favela conhecida como Favela do Moinho, em São Paulo, foi incendiada e muitas famílias foram afetadas. A malta do graffiti se uniu para levar alimentos e fortalecer a comunidade com o que podia. Naquele dia, muitas pessoas se juntaram e foram feitos vários trabalhos artísticos, deixando a comunidade cheia de murais e letras. Por onde você andava, havia arte por todo lado. No final, também houve um evento musical de hip hop. Foi um dia memorável, sem brigas nem rivalidade, apenas a união de todos que estavam ali em prol de algo muito maior. Via-se crianças e famílias sorrindo, felizes porque todos estavam ajudando e oferecendo um pouco de esperança, com o que cada um tinha de melhor para dar.


Cumprimentos / agradecimentos?


Agradeço à minha família, que me apoia e está comigo sempre, aos meus amigos de longa data que entenderam meu momento e a fase em que me isolei para me recriar e me focar na paternidade, a todxs que passaram na minha vida e me trouxeram ideias e formas diferentes de pensar. Agradeço a todos que estão chegando agora na minha vida, as novas amizades, e a tudo que a vida me trouxe.


Fotografias / Photos: Fétosz & Da Chic Thief


ENG

After the national guests, Brazilian artists/writers are the ones who stand out in second place in my interviews. In addition to the common language, which facilitates communication, this is due to the fact that many of them have chosen our country to live or spend their holidays.


Usually, it's at the Ginjal pier that I find out who is/was here. The place is an open-air art gallery, easily accessible by ferry from Lisbon.


In the case of Fétosz, it was in Lisbon that I first came into contact with his art, in abandoned pavilions next to the river.


Born in São Paulo, this multifaceted artist is known for his expressive characters that he distributes through graffiti, painting, sculpture or tattoos.


His CV already includes some jams in symbolic places of urban art in the capital.

Lately, he has left his characters for the abandoned people of the South Bank.


First of all, tell us a little about yourself.


I'm 37 years old and was born in São Paulo, in the Mooca neighborhood. I grew up and lived until I was 12 years old in Jardim Independência, a region close to Vila Prudente, East Zone of SP. I first came into contact with Pixação when I was 9 years old, because of friends who, at 13, 14, 15 years old, were already pixação. I was still very young, so I just accompanied them on tours.


The neighborhood started to become very dangerous and my family decided to move to the city of São Bernardo do Campo, where, at the age of 16, I started doing graffiti.


Do you have training in art?


Yes, I graduated in 2012 in Fine Arts.


When did your interest in graffiti/street art begin and what were your influences at the time?


I always liked drawing and started doing graffiti when I was 16. My influence was Magoo, who had been painting for a long time in Rudge Ramos, the region where I lived for many years. Afterwards, I participated for a while in the same Crew as him and also Faim and Brutais, graffiti writers from my region. My influences came from all the other graffiti artists in Brazil who came before my generation.


What does your tag mean?


Féto was because I was always the youngest of the people I hung out with, with an age difference of 5 years or more.


But Fetosz was a resignification of this Tag. I just signed because we are all here in the evolution of life, developing in this world, until the time we are truly born, when this journey ends.


In how many countries have you painted?


So far, only in Brazil and Portugal.


What's the most incredible place you've ever painted?


In an abandoned factory at the top of Ginjal, overlooking the Tagus River and Lisbon.


Do you prefer the studio or the street?


First, street. And the studio in winter, I think, is better for producing.


How many exhibitions have you had? When will the next one be?


18 exhibitions, that's it for now. I'm still organizing myself for a future exhibition.


What is your creative process like and where do you get the influences for your pieces?


My creative process involves a lot of trial and error, experimenting with different materials until I find a shape, idea or color that I like.


My influences, since 2017, come from philosophy and studies of the history of art in general and humanity. I believe that the source comes from the ancients and their legacy, and we, in the present, are continuing all of this.


Do you paint with sketch or freestyle?


Often it's a sketch and, depending on the situation of the day, I do it freestyle.


What plays on your playlist when you paint?


Rap, Reggae, MPB, experimental music. It varies a lot depending on the day too.


You are also interested in tattooing. Is this an area worth exploring?


I really like it, influenced by many professional friends in the field who have always encouraged me to tattoo. It's an aspect that I have a lot of respect for and I still intend to continue. But, at the moment, I am focusing on other areas, such as murals, canvas and sculpture.


How would you classify the current panorama of graffiti/street art in Portugal? What differences do you find compared to Brazil?


It's changed a lot, but it's part of being constantly evolving, and the quality of the artists is getting better and better. I feel like there's still a lot of division here between writers and those who play characters. In Brazil, this taboo was broken a long time ago; writers, muralists, everyone there goes through a lot of difficult situations and doesn't even waste time with that kind of bullshit. Either they unite or the system swallows them. But I believe that here in Portugal this is already changing a lot.


What is your top 3 Portuguese writers/artists?


There are a lot of people here who are super good at style!


Vhils

Fire666

Oker

Kampus


And foreign writers/artists?


• Brutal

8ou80 (may he be at peace, he was and will always be a great writer and artist)


Which writer/artist would you like to do a joint piece with?


There are a lot of people I still want to paint with. It doesn't have a specific name.


What do you consider to be your best piece, the one that gave you the most struggle and the one you still have left to do?


The best was a work I did in honor of my daughter. My daughter and I are very close, so, in the midst of missing being with her and not being able to, this gave me the inspiration to paint something with her in mind. That day, it was as if I was with her, because I thought about my daughter every moment. This painting was made completely from the heart.


I think every new art is also always a new struggle.


The one I have left to do will also always be the next idea, as I always want to improve with each new work.


What are your future plans / projects?


I spent this year 2024 starting my life over and restructuring myself. In 2025, I intend to be more focused on murals and I want to have a solo exhibition. Some projects have already been sent, so now it's time to make it happen with discipline and willpower.


Do you have a story you want to share?


There was a time, I think in 2012, that a favela known as Favela do Moinho, in São Paulo, was burned down and many families were affected. The graffiti guys came together to bring food and strengthen the community with whatever they could. That day, many people gathered and several artistic works were created, leaving the community full of murals and letters. Wherever you walked, there was art everywhere. At the end, there was also a hip hop music event. It was a memorable day, without fights or rivalry, just the union of everyone who was there for something much bigger. You could see children and families smiling, happy because everyone was helping and offering a little hope, with the best that each person had to give.


Greetings/thanks?


I thank my family, who supports me and is always with me, my long-time friends who understood my moment and the phase in which I isolated myself to recreate myself and focus on fatherhood, everyone who passed through my life and brought me ideas and different ways of thinking. I thank everyone who is now arriving in my life, the new friendships, and everything that life has brought me.

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