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Foto do escritorDa Chic Thief

Entrevista #32 ROSARLETTE MEIRELLES (Brasil)

Atualizado: 3 de abr.

PT

Ainda me lembro da primeira vez que me cruzei com o trabalho de Rosarlette Meirelles. Era um final de tarde de 2019 e eu andava a fotografar as novidades na Romeira. Estava a admirar umas obras poderosas quando parou um carro perto de mim e a condutora lançou a seguinte frase: "Gosta das pinturas? Foi esta minha amiga que as fez".


Fiquei perplexo, porque a força que emanava daquelas obras não ligava com aquela figura com ar frágil e cansado enrolada no banco do passageiro.



Mais tarde, tive oportunidade de conhecer a artista e um pouco mais da sua obra pungente na exposição "Refugiados", que esteve patente no Solar dos Zagallos, em Almada.



Ao longo destes dois anos, fui encontrando várias das suas pinturas (na Lx Factory, no Ginjal, na Fábrica Braço de Prata ou na Romeira) e assistindo à forma exímia como Rosarlette Meirelles utiliza locais abandonados (e outros) para dar voz aos invisíveis sociais.



Depois de muitas mensagens trocadas no Intagram, foi-se compondo a entrevista que agora vos trago.


Antes de mais, fale-nos um pouco sobre si. Sei que tem raízes portuguesas? Há quanto tempo reside em Portugal e quais são as suas impressões sobre o país?


Sim, minha mãe é portuguesa, meu pai brasileiro e com ele vêm também meus ancestrais alemães (talvez bisavós paternos). Vim a Portugal em 2016, a serviço da Câmara de Porto Seguro na Bahia. Em 2017 vim novamente a trabalho e resolvi morar por uns tempos aqui. Fui ficando e já lá vão 4 anos.


A princípio, confesso que percebi um pouco de preconceito com relação à mulher brasileira. Mas aos poucos, nas relações profissionais e de amizade, essa impressão foi-se diluindo.


Vejo também que as coisas nas áreas artísticas acontecem fortemente em Lisboa. Isso se deve, talvez, por ser um centro de encontro de pessoas que chegam dos países europeus, americanos e africanos. Isso é bom pra nós que fazemos arte e ruim para o nativo português que teve seu espaço de vida descaracterizado e muitos deixaram suas casas e foram para as terras no interior, onde ainda podemos ver a raiz portuguesa

bem latente. De qualquer forma, para um país pequeno e conservador, ainda assim apresenta muitas iniciativas nas áreas artísticas... é só ficar atento ao que está acontecendo…



Tem formação em arte?


Tenho Licenciatura Plena em Artes e, paralelamente, trabalhei por um bom tempo em publicidade e animação. Assim, o produto de meus trabalhos está totalmente ligado à linha plástica e ilustrativa.



Para além de artista, é professora. Como reagem os seus alunos aos seus

trabalhos?


Dou aulas desde 2000, ora dando aula na rede escolar, ora dando aula em Centros Culturais e no meu atelier VOO DA ROSA.


Os alunos sempre souberam que sou uma artista plástica e professora de artes, pintura e desenho. Sempre acompanharam meu trabalho, sempre foram convidados nos meus eventos e acredito que também sempre perceberam algum diferencial nas minhas aulas por conta disso. Só tenho que agradecer a parceria deles em aula e fora dela.


Quantas exposições já fez em Portugal e quando vai ser a próxima?


Já fiz 7 exposições (entre Belmonte, Sintra, Lisboa e Almada) e agora estou me preparando para a próxima “A VOZ DO OLHAR”, que vai ter a abertura em 17 de Julho. Esta é uma informação em primeira mão, logo sairá o convite oficial nas redes sociais.



Quando começou a sua atração pela rua e passou a utilizá-la como cenário das suas obras?


Na Bahia já fazia minhas incursões, de maneira mais tímida, no sentido de usar muros em ambientes fechados. Isso foi o start para perceber esse suporte como veículo forte para apresentar meu trabalho. O bom disso é poder fazer arte com adrenalina na veia, com liberdade, sem pagar espaço, sem obrigação de agradar o olhar de galeristas. O importante é, sim, agradar a mim mesma, o que me leva a fazer com uma paixão tão autêntica que acaba agradando a quem se destina realmente meu trabalho, aos invisíveis sociais, e que, ao se tornarem visíveis nos muros, fazem com que quem não seja tão invisível assim também perceba e se encante com essas obras. Comecei a me expor em muros públicos em 2017 aqui em Portugal, quando descobri várias áreas com

paredes degradadas, grafitadas ou pichadas.



O que prefere? O estúdio, a sala de aula ou a rua?


Os três têm momentos muito especiais e específicos que me dão felicidade. Mas, se tiver que falar por ordem de prazer, a rua em primeiro, depois o estúdio e, por último, a sala de aula.



Como é o seu processo criativo e onde vai buscar as suas inspirações? As suas raízes portuguesas, alemãs e brasileiras também marcam as suas obras?


Meu processo criativo parte do meu foco de atenção ao mundo, parte daquilo que me incomoda, no caso as diferenças sociais, as divisões entre as pessoas aprendidas desde cedo. Com a arte posso falar, ainda que subjetivamente, desses incômodos. O processo criativo está, em primeiro lugar, em colocar pra fora esse dissabor e depois... em como apresentar essa criação de forma artisticamente harmoniosa para o espectador. Para isso, busco referência através de fotos que tiro por aí das pessoas e de seus momentos. Ou então busco referências de material fotográfico jornalístico, como quando fiz a

exposição REFUGIADOS. Em ambas as situações, os resultados nas obras são releituras de acordo com meu sentir. Basicamente, tem ligação com a base das minhas raízes brasileiras diretamente ligada aos índios e negros. Não acho que minha obra tenha alguma influência portuguesa ou alemã. De qualquer forma os invisíveis sociais são parecidos, no seu formato de invisível, em qualquer nacionalidade.



Que artistas influenciaram / influenciam o seu trabalho?


Quando comecei a produzir na época da faculdade, talvez o artista que me deu

força pra continuar com meu foco pelos menos favorecidos foi o pintor

modernista brasileiro Cândido Portinari. Confesso que nunca me liguei muito na produção de outros artistas. Mas me chamava a atenção aqueles que tinham uma forma mais dramática na representação de seus personagens. Por isso gosto bastante de Caravaggio (pelos contrastes de luz e sombra) e de El Greco, pela melancolia dos olhares de seus personagens. Hoje em dia, encontrei uma forma própria de desenvolver minhas obras, mas busco outros formatos, prestando muita atenção nas técnicas soltas de outros artistas para representar a realidade, como as obras da portuguesa Paula Rego e da sul-africana Marlene Dumas.



Em quantos países já pintou? Que memórias guarda?


Infelizmente, minhas incursões na arte se detiveram, principalmente, no Brasil, na Guiné Bissau e, agora, em Portugal, embora tenha algumas de minhas obras com particulares em outros países da América do Sul, América Central e Europa (fora de Portugal).


Apesar de ter sido o lugar em que menos tempo estive e menos produzi, sem dúvida alguma pintar na Guiné Bissau teve um sabor de sonho realizado.



Passou recentemente por Belmonte e pinta com regularidade em Lisboa e na

Margem Sul. Que locais de Portugal a marcam e inspiram?


Gosto muito dos centros urbanos para pintar (não para viver), pois lá percebo a

invisibilidade mais gritante. Aqui em Portugal não consigo citar um lugar em especial. No centro de Lisboa existem vários lugares com edificações degradadas, cada uma delas é inspiradora, como também algumas ruas de Cacilhas, Almada Velha e Ginjal. Belmonte, como outras cidades menores, trazem também locais degradados onde aí prefiro exaltar os habitantes característicos do lugar e não propriamente os invisíveis, pois a maioria se conhece.



Já marcou presença em algum Festival de Arte ou eventos similares? Qual foi

aquele em que teve mais gosto em participar?


Já estive marcando presença em alguns eventos de arte no Brasil e aqui em Portugal, mas confesso que nenhum me marcou em particular, exceto três no Brasil me tocaram pelo que minha obra causou nos presentes e transeuntes: fiz uma pintura num painel, somente com as mãos sem usar pincéis, dentro de uma igreja durante a romaria em homenagem à santa da cidade; outra, em um muro, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher; por último, uma exposição ao ar livre num bairro singelo na Bahia, onde as pessoas se identificaram de cara com os retratados. Esses foram os momentos que mais me deram prazer, por ter tido a liberdade de fazer algo com liberdade na expressão e sem direcionamento de interesses adversos.



Prefere pintar sozinha ou em grupo?


Com certeza, sozinha.



O que toca na sua playlist quando pinta?


Toca de tudo um pouco, depende do momento e do meu espírito. Ouço Música Popular Brasileira, Americana, Africana, Rock, Ópera (as mais serenas e as instrumentais, para acalmar a mente). É mais fácil dizer as que não ouço: Heavy Metal e Gospel.



Como descreve o panorama atual da arte em Portugal e que diferenças encontra relativamente ao Brasil?


Acho que a resposta está na observação entre as duas culturas. O Brasil é um país mais informal, menos conservador e maior geograficamente, o que facilita uma diversidade de resultados. O mesmo serve inversamente para Portugal.


Com relação à produção, no Brasil a valorização da arte fica travada pela falta de interesse do poder político em se dedicar à educação, cultura e, consequentemente, à arte. Em Portugal a valorização da arte fica travada pela falta temporal de vivência artística, ligada principalmente ao conservadorismo do país. Quando digo travada, é no sentido de não evoluir mais rapidamente, o que não quer dizer que, tanto no Brasil como em Portugal, essa evolução é uma questão de tempo e luta constante e massiva dos artistas para a arte ter o seu papel mais definido e com a devida importância dentro da sociedade. Acho que muita coisa já andou para frente, nós que temos sede das coisas serem mais rápidas…



Qual é o seu top 3 de artistas portugueses?


Paula Rego, Bordallo II, Vhils... bem entendido que tem muita gente da melhor qualidade, não dá pra falar de todos aqui, é só abrir o Instagram e a gente vê coisas incríveis que portugueses, brasileiros e outros estrangeiros estão fazendo atualmente, excelentes trabalhos!


E de artistas estrangeiros?




Qual é o seu melhor trabalho?


O último, a gente vai sempre aprimorando. Portanto, os últimos trabalhos que venho desenvolvendo para mim são os melhores. Apesar de que tenho uma produção que fiz durante o tempo da faculdade que guardo com muito carinho nas minhas lembranças (já foram vendidos e só me restam as fotos). Eles têm algo que hoje tento resgatar, que é o purismo da minha arte, sem os vícios artísticos que fui adquirindo ao longo da vida.



Quais são os seus planos / projetos futuros?


Olha, se tem algo que não gosto de compartilhar são planos e projetos, porque estão em processo de execução e podem mudar ou se transformar, conforme esse processo. Mas… uma coisa posso compartilhar: sem arte fica difícil eu acordar com vontade. Assim, a ARTE foi, é e sempre será meu ar.



Tem alguma história que queira partilhar?


Talvez uma história que passei quando acabei a Faculdade de Artes. Fiz alguns trabalhos em nanquim sobre papel (em dimensões A2) e eu mesma fiz as molduras. Trabalho feito com paixão e inocência. Coloquei os trabalhos no meu fusquinha e levei a uma galeria conceituada de um bairro nobre de São Paulo, onde agendei um horário com a galerista.


Cheguei e fui colocando os trabalhos enfileirados encostados junto à parede da galeria para ela ter noção do todo. Silêncio profundo pairou no ar, que foi quebrado com um olhar misturado de enfado e penalização pejorativa, acompanhado da seguinte frase: “Você acha que alguém vai querer pendurar a pobreza na parede?”. Silenciosamente, recolhi tudo, voltei para o meu fusquinha e guardei os trabalhos em casa.


Fui apresentar essas obras 20 anos depois desse episódio, os vendi rapidamente.



Cumprimentos / agradecimentos?


Só tenho que agradecer por acreditarem no meu trabalho, agradecer a todos que cruzaram meu caminho na publicidade, nas artes, na educação, agradecer pela acolhida aqui em Portugal e, em especial, a você pela oportunidade de falar sobre minha jornada artística.


Fotografias / Photos: Rosarlette Meirelles & Da Chic Thief


ENG

I still remember the first time I came across Rosarlette Meirelles' work. It was late afternoon in 2019 and I was photographing the news in Romeira. I was admiring some powerful works when a car stopped near me and the driver launched the following sentence: "Do you like the paintings? It was this friend of mine who made them". I was perplexed, because the strength that emanated from those works didn't connect with that frail, tired-looking figure curled up in the passenger seat. Later, I had the opportunity to meet the artist and a little more of her poignant work at the exhibition "Refugiados", which was on display at Solar dos Zagallos, in Almada.


Over these two years, I found several of her paintings (at Lx Factory, Ginjal, Fábrica Braço de Prata or Romeira) and I watched the excellent way in which Rosarlette Meirelles uses abandoned places (and others) to give voice to the social invisible . After many messages exchanged on Intagram, the interview that I now bring you was composed.

First of all, tell us a little about yourself. I know that you have Portuguese roots? How long have you lived in Portugal and what are your impressions of the country? Yes, my mother is Portuguese, my father is Brazilian and with him also come my German ancestors (perhaps paternal great-grandparents). I came to Portugal in 2016, at the service of the Porto Seguro town hall in Bahia. In 2017 I came back to work and decided to live here for a while. I stayed here and it's been 4 years. At first, I confess that I noticed a bit of prejudice towards Brazilian women. But little by little, in professional and friendship relationships, this impression was diluted. I also see that things in the artistic areas happen strongly in Lisbon. This is perhaps due to the fact that it is a meeting center for people who come from European, American and African countries. This is good for us who make art and bad for the Portuguese native who had their living space uncharacterized and many left their homes and went to the interior lands, where we can still see the Portuguese roots very latent. Anyway, for a small and conservative country, it still presents many initiatives in the artistic areas... we just have to be aware of what is happening...


Are you trained in art? I have a full degree in Arts and, in parallel, I worked for a long time in advertising and animation. Thus, the product of my work is totally linked to the plastic and illustrative line. In addition to being an artist, you are a teacher. How do your students react to your works? I have been teaching since 2000, sometimes teaching in the school network, sometimes teaching in Cultural Centers and in my studio VOO DA ROSA. Students have always known that I am an artist and an art, painting and drawing teacher. They always followed my work, were always invited to my events and I believe they always noticed a difference in my classes because of that. I just have to thank them for their partnership in class and beyond. How many exhibitions have you done in Portugal and when will be the next one? I've done 7 exhibitions (between Belmonte, Sintra, Lisbon and Almada) and now I'm getting ready for the next “A VOZ DO OLHAR”, which will open on the 17th of July. This is first-hand information, soon the official invitation will come out on social networks. When did your attraction to the street began and you started using it as a backdrop of your works? In Bahia I already made my incursions, in a more timid way, in the sense of using walls indoors. This was the start to perceive this support as a strong vehicle to present my work. The good thing about this is being able to make art with adrenaline in your veins, with freedom, without paying for space, without having to please the gaze of gallery owners. The important thing is, yes, to please myself, which leads me to do it with such an authentic passion that it ends up pleasing those who are really destined for my work, the social invisibles, and who, by becoming visible on the walls, make them whoever is not so invisible will also notice and be enchanted by these works. I started exposing myself on public walls in 2017 here in Portugal, when I discovered several degraded areas with graffiti walls.


What do you prefer? The studio, the classroom or the street? The three of them have very special and specific moments that make me happy. But if I have to speak in order of pleasure, the street is first, then the studio and, lastly, the classroom. How is your creative process and where do you get your inspirations? Do your Portuguese, German and Brazilian roots also mark your works? My creative process starts from my focus of attention on the world, part of what bothers me, in this case the social differences, the divisions between people learned from an early age. With art I can speak, albeit subjectively, about these discomforts. The creative process is, first of all, to get that unpleasantness out of the way and then... on how to present that creation in an artistically harmonious way to the viewer. For this, I look for reference through photos that I take around people and their moments. Or I look for references from journalistic photographic material, as when I made the REFUGEES exhibition. In both situations, the results in the works are reinterpreted according to my feeling. Basically, it has a connection with the base of my Brazilian roots directly linked to Indians and blacks. I don't think my work has any Portuguese or German influence. Anyway, social invisibles are similar, in their invisible format, in any nationality.

Which artists have influenced / influence your work? When I started producing in college, maybe the artist who gave me strength to continue with my focus on the underprivileged was the painter Brazilian modernist Cândido Portinari. I confess that I never really connected in the production of other artists. But those who had a more dramatic representation of their characters caught my attention. For that I really like Caravaggio (for the contrasts of light and shadow) and El Greco, for the melancholy of the looks of its characters. Nowadays I found my own way to develop my works, but I look for others formats, paying close attention to other artists' loose techniques for represent reality, such as the works of the Portuguese artist Paula Rego and the sul-African Marlene Dumas.


In how many countries have you painted? What memories do you keep? Unfortunately, my incursions into art were mainly in Brazil, Guinea Bissau and now Portugal, although I have some of my works with individuals in other countries in South America, Central America and Europe (outside Portugal). Despite being the place I spent the least time and produced the least amount of time, painting in Guinea Bissau undoubtedly had the taste of a dream come true.

You recently passed through Belmonte and you paint regularly in Lisbon and in Margem Sul. Which places in Portugal mark and inspire you? I really like urban centers to paint (not to live), because there I understand the most glaring invisibility. Here in Portugal I can't name a place in particular. In the center of Lisbon there are several places with degraded buildings, each one of them is inspiring, as well as some streets of Cacilhas, Almada Velha and Ginjal. Belmonte, like other smaller cities, also bring degraded places where I prefer to exalt the characteristic inhabitants of the place and not exactly the invisible ones, as most of them know each other.

Have you attended any Art Festival or similar events? What's up the one you were most pleased to participate in? I've already been present at some art events in Brazil and here in Portugal, but I confess that none of them marked me in particular, except three in Brazil touched me because of what my work caused in those present and passersby: I made a painting on a panel, only with the hands without using brushes, inside a church during the pilgrimage in honor of the city's saint; another, on a wall, in honor of International Women's Day; finally, an open-air exhibition in a simple neighborhood in Bahia, where people identified face to face with those portrayed. These were the moments that gave me the most pleasure, for having had the freedom to do something with freedom of expression and without directing adverse interests.


Do you prefer to paint alone or in a group? Definitely alone. What plays on your playlist when you paint? It plays a little bit of everything, it depends on the moment and on my spirit. I listen to MPB, American, African, Rock, Opera (the most serene and the instrumental, to calm the mind). It's easier to say the ones I don't hear: Heavy Metal and Gospel.

How do you describe the current panorama of art in Portugal and what differences find about Brazil? I think the answer lies in the observation between the two cultures. Brazil is a more informal country, less conservative and larger geographically, which facilitates a diversity of results. The same goes inversely for Portugal. Regarding production, in Brazil the appreciation of art is hampered by the lack of interest on the part of the political power in dedicating itself to education, culture and, consequently, to art. In Portugal, the appreciation of art is hampered by the temporal lack of artistic experience, mainly linked to the country's conservatism. When I say blocked, it is in the sense of not evolving more quickly, which does not mean that, both in Brazil and in Portugal, this evolution is a matter of time and the artists' constant and massive struggle for art to have its more defined role and with due importance within society. I think a lot has already moved forward, we who are thirsty for things to be faster... What is your top 3 of Portuguese artists?

Paula Rego, Bordallo II, Vhils... of course there are many people of the best quality, you can't talk about them all here, just open Instagram and we'll see amazing things that Portuguese, Brazilians and other foreigners are currently doing, excellent work!

And from foreign artists? Marlene Dumas, Banksy, Kobra.


What is your best work? The last one, we are always improving. Therefore, the last works I've been developing for me are the best. Although I have a production that I made during my college years that I keep with great affection in my memories (they have already been sold and I only have the photos left). They have something that I try to rescue today, which is the purism of my art, without the artistic vices that I acquired throughout my life. What are your future plans/projects? Look, if there's something I don't like to share, it's plans and projects, because they're in the process of being executed and they can change or transform, depending on the process. But… one thing I can share: without art, it's hard for me to wake up willingly. Thus, ART was, is and will always be my air.

Do you have a story you want to share? Maybe a story I went through when I finished Faculty of Arts. I made some works in ink on paper (in A2 dimensions) and I made the frames myself. Work done with passion and innocence. I put the works in my Volkswagen Beetle and took them to a renowned gallery in an upscale neighborhood in São Paulo, where I made an appointment with the gallery owner. I arrived and was placing the works in a row against the gallery wall so she could have a sense of the whole. A profound silence hung in the air, which was broken with a look mixed with annoyance and derogatory punishment, accompanied by the following sentence: "Do you think anyone will want to hang poverty on the wall?" Quietly, I collected everything, went back to my Volkswagen Beetle, and put the papers away at home. I went to present these works 20 years after this episode, I sold them quickly. Greetings / thanks? I just have to thank you for believing in my work, thank you all who crossed my path in advertising, in the arts, in education, thank for the welcome here in Portugal and, in particular, to you for the opportunity to speak about my artistic journey.

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