PT
Depois de um período de isolamento devido à Covid, mais um Caminho de Santiago e uns dias de descanso merecido, rumei ao Norte para mais uma entrevista.
Membro dos CPkrew e Gatos do Beko, o writer Ekyone nasceu em 1982, na cidade do Porto.
Interessou-se desde muito cedo pelas artes decorativas e pelo desenho, algo que o faz voar num mundo de sonho cheio de equilíbrio e harmonia.
Durante a infância mudou-se para Lisboa, onde, aos dezasseis anos, teve o primeiro contacto com o graffiti e percebeu o que realmente se podia fazer com uma lata de spray. Foi aí que começou a testar e a desenhar letras, pequenos logótipos e alguns bonecos.
As paisagens e os monumentos são algumas das suas inspirações mas as letras são, claramente, a sua preferência.
Foi em 1998 que começou a pintar com alguns amigos e após quase 25 anos de trabalho contínuo já colaborou com várias empresas, particulares, bares, cafés, campeonatos, programas de TV e eventos nacionais e internacionais.
Na sua busca por um estilo único, Ekyone mantém um estudo constante das novas técnicas e materiais, com a mente aberta para nunca parar e se superar a cada dia.
Aqui têm as suas respostas.
Quando começou o teu interesse pelo graffiti e quais foram as tuas influências na
altura?
Começou cedo, eu devia ter menos de 10 anos. O meu irmão era bboy e, na altura, já se viam uns videoclipes com desenhos no fundo.
Mais tarde comecei a ver na rua alguns graffitis, em meados de 1996. Mas foi em 1998 que me despertou a curiosidade e aí comecei a pintar.
As influências iniciais foram os grafs do Exas, Degas, Sea e Youth e, mais tarde, tive 2 grandes pintores a meu lado (Nark e Oze) que me ajudaram a evoluir e que ainda hoje me inspiram.
Como era a cena no graffiti quando começaste?
Para além de sermos poucos, ser uma arte recente e haver escassez de material e informação, a cena era pura (não que hoje não seja, mas havia outros valores e princípios). Quando se descobria que um amigo/conhecido ou até se conhecia alguém que também pintava era uma festa, ahahahah.
Um dos pontos é que fazíamos e mantínhamos tudo em segredo. O importante era pintar, abusar das estradas, linhas e comboios, quem fazia o spot e peça mais abusada.
Foi um empenho e uma grande luta que tivemos, mas, hoje em dia, valeu todo o esforço.
Quais são as tuas crews?
Quais são os teus spots / cidades preferidos?
O meu nº 1 é o meu wall of fame no Cacém, criado por mim e mais 3 amigos, e que está ativo desde 2000 até hoje.
Como é o teu processo criativo e onde vais buscar as tuas inspirações?
Vai depender muito do meu estado de espírito e como está a minha vida pessoal.
Mas gosto de estar no meio da natureza a desenhar, eleva-me a outros mundos de fantasia.
Wall of fame, street bombing ou train bombing?
Esta é das perguntas difíceis... sinceramente, eu gosto de todas. O que gosto mais de fazer é street bombing, foi sempre onde me senti melhor. Também gosto de comboios e wall of fame mas, neste momento, o que mais faço são trabalhos e para o resto, infelizmente, não tenho muito tempo livre e, então, fica para segundo ou terceiro plano.
Lettering ou characters?
Para mim, é mesmo letras, letras, letras.
Pintas com sketch ou freestyle?
Vai depender dos dias e da peça que vou fazer, mas na maioria das vezes vai freestyle.
O que não pode faltar num bom dia de pinturas?
Para além do material, latas, caps e tinta, umas cervejas e amigos são a cereja no topo do bolo, ahahahah.
O que toca na tua playlist quando pintas?
É muito variada. O que mais ouço é hip hop, mas trago sempre comigo jazz, blues, música pop e, algumas vezes, heavy metal.
Qual é a tua lata preferida?
Gosto muito da Montana hardcore mas, neste momento, tenho pintado muito com Loop colors.
Qual é aquela peça que te falta fazer (pelo seu tamanho, local, ...)?
Tem algumas cidades que gostava muito de pintar (como Nova York, ir à fonte de onde tudo começou). Tem mais alguns sítios mas ainda é um pouco extensa a lista. Apesar de já ter corrido a Europa quase toda, ainda me faltam uns países e outros continentes.
Como descreves o panorama atual do graffiti em Portugal?
Acho que, hoje em dia, com toda a informação que existe, as redes sociais e a variedade e qualidade de material que temos o pessoal ficou mais preguiçoso e desleixado. São poucos os artistas de bom nível a aparecer e que se apliquem para fazer a diferença. Mas isto aplica-se a outras áreas em que acaba por ser igual.
Qual é o teu top 3 de writers portugueses?
E de writers estrangeiros?
Totem 2, Cavdis e o Bublegum. Mas é uma lista a olhar com bons olhos, porque tem muitos artistas de que gosto muito.
Com que writers gostarias de fazer uma peça conjunta?
Tem muita gente com quem gostava de pintar, mas sempre adorei pintar com o Nark, juntos temos uma grande sintonia, já é uma ligação e amizade de longa data. Sinceramente, não troco isso por nada.
Em tantos anos ligado ao graffiti, já viste muitos writers e crews ficarem pelo
caminho. O que te mantém forte na tua ligação ao movimento?
Sinceramente, acho que foi o amor por isto. Nos primeiros anos a pintar imaginava-me a pintar aos 40/50 anos, mas era um pensamento do que hoje é realidade.
Hoje em dia estou dividido entre um bom convívio e o prazer de pintar e a parte profissional, porque vivo do graffiti.
Tens alguma história que queiras partilhar?
Histórias são muitas! É das coisas que prefiro contar pessoalmente num convívio com
comes e bebes, a piada vai ser maior.
Quais são os teus planos / projetos futuros?
Este ano quero pintar mais na rua, tanto wall of fames como bombing. Tenho já coisas em mente, umas organizadas e outras em confirmação. Tudo em segredo, ahahahah, sempre ouvi dizer "A palavra é prata, o silêncio é ouro." Assim não se estraga nada, ahahahah.
Props?
À minha familia, à minha mulher e sem esquecer as minhas crews. Tem amigos mas eles vão saber, porque estivemos sempre lado a lado, mesmo que às vezes longe.
Fotografias & vídeos: Ekyone
Photos & videos: Ekyone
ENG
After a period of isolation due to Covid, another Camino de Santiago and a few days of well-deserved rest, I headed north for another interview.
A member of CPkrew and Gatos do Beko, the writer Ekyone was born in 1982, in the city of Porto.
From an early age, he was interested in the decorative arts and design, something that makes him fly in a dream world full of balance and harmony. During his childhood he moved to Lisbon, where, at the age of sixteen, he had his first contact with graffiti and realized what you could really do with a spray can. That's when he started testing and designing letters, small logos and some dolls. Landscapes and monuments are some of his inspirations but letters are clearly his preference.
It was in 1998 that he started painting with some friends and after almost 25 years of continuous work he has already collaborated with several companies, individuals, bars, cafes, championships, TV programs and national and international events. In his quest for a unique style, Ekyone keeps a constant study of new techniques and materials, with an open mind to never stop and surpass himself every day.
Here are his answers.
When did your interest in graffiti begin and what were your influences at that time? It started early, I must have been less than 10 years old. My brother was a bboy and, at the time, there were already some videoclips with drawings in the background. Later I started to see some graffiti on the street, in mid-1996. But it was in 1998 that my curiosity aroused and then I started to paint. The initial influences were the grafs of Exas, Degas, Sea e Youth and, later, I had 2 great painters by my side (Nark and Oze) who helped me evolve and who still inspire me today. What was the graffiti scene like when you started? In addition to being few, being a recent art and having a scarcity of material and information, the scene was pure (not that today it is not, but there were other values and principles). When it was discovered that a friend/acquaintance or even knew someone who also painted was a party, ahahahah. One of the points is that we did and kept everything a secret. The important thing was to paint, abuse the roads, lines and trains, who made the spot and the most abused piece. It was an effort and a great struggle that we had, but, nowadays, it was worth all the effort. What are your crews? CPkrew and Gatos do Beko. What are your favorite spots / cities? My number 1 is my wall of fame in Cacém, created by me and 3 other friends, and which has been active since 2000 until today.
How is your creative process and where do you get your inspirations?
It will depend a lot on my state of mind and how my personal life is. But I like to be in the middle of nature drawing, it takes me to other fantasy worlds.
Wall of fame, street bombing or train bombing?
This is one of the hard questions... honestly, I like them all. What I like to do the most is street bombing, it's always been where I felt the best. I also like trains and wall of fame, but at the moment, what I do the most is commissioned work and for the rest, unfortunately, I don't have much free time and so it's in the background.
Lettering or characters?
For me, it's really letters, letters, letters.
Do you paint with sketch or freestyle?
It will depend on the days and the piece I'm going to do, but most of the time it's freestyle.
What can't be missing on a good day of paintings?
In addition to the material, cans, caps and paint, some beers and friends are the icing on the cake, ahahahah.
What plays on your playlist when you paint?
It's very varied. What I listen to the most is hip hop, but I always bring jazz, blues, pop music and sometimes heavy metal with me.
What is your favorite can?
I really like Montana hardcore, but right now, I've been painting a lot with Loop colors.
What is that piece you need to make (due to its size, location, ...)?
There are some cities that I really liked to paint (like New York, going to the source where it all started). There are a few more sites but the list is still a bit long. Although I have already run almost all of Europe, I still lack some countries and other continents.
How do you describe the current situation of graffiti in Portugal?
I think that nowadays, with all the information that exists, social networks and the variety and quality of material we have, people have become more lazy and sloppy. There are few artists of good level to appear and who apply themselves to make a difference. But this applies to other areas where it turns out to be the same.
What is your top 3 of Portuguese writers?
And from foreign writers?
Totem 2, Cavdis and Bublegum. But it's a list to look at with good eyes, because there are many artists that I really like.
With which writers would you like to do a joint piece?
There are a lot of people I liked to paint with, but I've always loved painting with Nark, together we have a great harmony, it's already a connection and friendship for a long time. Honestly, I wouldn't trade it for anything.
In so many years connected to graffiti, you've seen many writers and crews stay way. What keeps you strong in your connection to the movement?
Honestly, I think it was the love for it. In the first years of painting, I imagined myself painting at 40/50, but it was a thought of what is now reality.
Nowadays I'm divided between a good socializing and the pleasure of painting and the professional part, because I live off graffiti.
Do you have a story you want to share?
Stories are many! It's one of the things I prefer to tell personally in a socializing with food and drink, the joke will be bigger.
What are your future plans/projects?
This year I want to paint more on the street, both wall of fames and bombing. I already have things in mind, some organized and others confirmed. All in secret, ahahahah, I've always heard "Words are silver, silence is gold." That way nothing gets ruined, hahahah.
Greetings / Thanks?
To my family, my wife and not forgetting my crews. Also some friends but they will know, because we were always side by side, even if sometimes far away.
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