Entrevista #135 ANKE 1

PT

Foi em 2009 / 2010 que ANKE 1 se começou a interessar pelo graffiti, que conheceu através de um amigo.

No início a vontade era espalhar o nome / tag, mas cada vez mais o seu gosto pende para os characters.

O artista usa paredes e edifícios devolutos de Vila do Conde e Póvoa do Varzim como telas para os seus desenhos.

As personagens do imaginário infantil (que vai buscar aos desenhos animados e à banda desenhada) são pintadas por Anke 1 nos sítios mais improváveis e quase sempre acompanhadas por mensagens positivas, como que cumprimentando quem por elas passa.

Garfield, Tom e Jerry, Lucky Luke, Papa-Léguas e Coiote, Snoopy ou Bugs Bunny são alguns dos cartoons já representados nesta exposição a céu aberto, que também funciona como catálogo para os trabalhos comissionados do artista.

O espírito do graffiti mantém-se (as saídas noturnas, a transgressão, o pintar no melhor spot da zona), mas os characters são mais facilmente aceites pela população em geral.

Mais uma entrevista com pronúncia do Norte.

Qual é o significado do teu tag?

Gostava de ter uma boa história para contar, mas a verdade é que são só quatro letras

escolhidas de forma aleatória. A minha primeira tag foi Nug e depois Solu até, mais tarde, trocar para Anke. A ideia base, quando conheci o graffiti, era ter uma tag simples, com poucas letras, geralmente entre 3 a 5 letras, com o propósito de poder pintá-la rapidamente em qualquer muro.

Tens formação em arte?

Não tenho nenhuma formação artística, o meu estudo é inteiramente autodidata.

Quando começou o teu interesse pelo graffiti e quais foram as tuas influências na altura?

Eu comecei muito novo, por volta dos 12 anos (em 2009 / 2010). Naquela altura conheci um amigo que me apresentou o graffiti, a tag dele era Fuse e a alcunha era Zuka. Formámos a minha primeira crew (BNSK) e tenho imensas boas recordações e histórias desse início, que durou uns anos até ele ir para o Brasil, em 2014.

O meu irmão também sempre ouviu hip hop e acabou por passar esse gosto para mim, acho que essa ligação precoce com a cultura hip hop também me levou ao graff.

Quando comecei, tinha várias influências na minha cidade (Vila do Conde), nomes como SUB e NYPE e todos os membros de FBIG, assim como o ZECU / XUI, DNA, BRTS, FUSE, entre outros. E claro que dentro da cultura graffiti do Porto existem muitos nomes importantes como FYND, GMB, DTOS, TRIP, SYZE, GONE, SEKA, AORE, SKTR, ALQ, MTS, DUB, AERO, AMR, NAKE, AC’S, DHEO, DEXA e tantos, tantos outros nomes. A nível nacional lembro-me muito de SEN, NOMEN, YOUTH, BLUBLAS, HIER, COLA, TRAVIS.

Em que spots / cidades gostas de pintar?

A minha cidade favorita para pintar é Vila do Conde, é a cidade onde vivo e onde acredito poder fazer a diferença. Um dos meus melhores amigos disse-me uma frase que tornei numa máxima de vida que foi “Porque queres ser pequeno  numa cidade grande se podes ser grande numa cidade pequena”. É claro que pinto em qualquer lado, depende do momento, mas como favorita escolho a minha cidade.

Em relação a spots eu sigo a 1ª lei do Graff: "O meu nome (tag) no melhor spot da zona”. Se fazes graff, tu queres que a tua tag seja vista, que as pessoas saibam o teu nome. Normalmente associamos um writer ao seu nome e não à sua cara e essa é a cena, quero o meu nome na parede mais difícil de pintar e mais vista de cada zona.

O que puxa por ti hoje em dia? Street bombing, train bombing ou wall of fame?

Eu sou muito de fases, até porque embora hoje eu trabalhe muito com graffiti aka pintar paredes esse não é o único modo de expressão artística que pratico e por isso passo grandes temporadas sem pintar na rua. De qualquer das formas, neste momento, o meu nome está muito associado aos bonecos com as mensagens e por isso não o coloco em qualquer muro.

Mas respondendo diretamente à questão, quando tenho um tempo, vou dando uns Fames em locais abandonados ou autorizados, descontraído e com amigos e de resto eu diria que me concentro no Street Bombing. Claro que é uma conversa difícil no “mundo do graff”, porque eu não faço letras, faço bonecos, mas... a minha ideologia é a mesma. É ILEGAL, procuro colocá-los no melhor spot da zona, representam o meu nome (tag), dificultam a tarefa porque demoro mais do dobro do tempo do que se mandasse um lettering e, a melhor parte, eu sinto a mesma adrenalina do bombing quando estou a pintar. Por essas razões, eu acredito que nunca deixei de ser BOMBER, só mudei o contexto visual como me apresento, o resto está tudo lá.

Como referiste, és conhecido pelas tuas personagens. Preferes characters ou lettering?

Gosto muito de ambos. Acho que a diferença é que os characters são mais facilmente aceites pela população em geral e os letterings são maioritariamente do nicho da cultura do Graffiti, pelo que acabam por ter uma conotação negativa entre as pessoas. Mesmo quando combino os 2, acho que as pessoas desvalorizam muito as letras. Agora, na minha opinião, acabam por ser cenas distintas e com objetivos diferentes.

Pessoalmente, gosto de dar characters, gosto de dar letras e gosto de dar os dois juntos.

Como é o teu processo criativo e onde vais buscar a inspiração para as tuas personagens?

Para mim, a teoria da criatividade continua muito difícil de compreender, ando sempre a estudá-la, a tentar aprender a controlá-la e torná-la melhor, mas é um longo caminho. Mas, mesmo com toda essa insistência em melhorar o processo criativo, eu continuo a acreditar que a maior criatividade provém do menor esforço.

Não tenho um método único para a inspiração das personagens, às vezes é em função do spot, outras em função das cores que tenho, outras pelo tempo que devo demorar no spot, por vezes é porque vi e lembrei-me da personagem, outras estão apontadas nas notas, outras de algumas pessoas que dão ideias. Enfim, tanto os bonecos como as frases derivam de muitos fatores externos. Muitas vezes decido tudo na hora, outras têm todo um plano. Enfim, inúmeras situações.

Qual foi a que te deu mais gozo pintar?

Acho que cada peça tem o seu “gozo”, a sua história e de certa forma cada uma é especial. Já me aconteceu tanta coisa. Mas, claro, recordo com prazer a primeira vez que fiz um boneco na rua; foi o coiote da Looney Tunes que segurava uma placa a dizer “Bom Dia”, numa parede bem perto de onde eu moro. Este tem um sabor especial porque foi aí que percebi que podia manter toda a atitude do Bombing, sentir aquela adrenalina, sentir-me a fazer graffiti de uma forma que a maioria das pessoas não “odiasse”, o que me permitiria associar a minha tag à minha cara sem colocar em risco o meu trabalho e a minha Arte Profissional.

Quais são os ingredientes para um bom dia de pinturas?

Eu acho que um bom dia de pinturas é quando se faz aquele wall of fame meio legal meio ilegal, com os amigos todos, um churrasco, umas cervejas, muita tinta e toda a gente a  meter a sua tag na parede. Esse é aquele dia clássico, que acontece poucas vezes, o que o torna mais memorável.

Claro que uma pintura a solo de dia com uns phones e depois da reza ‘anti-policia’ também é um clássico especial, mas, por experiência própria, se for uma rua muito movimentada, é melhor à noite.

Pintas com sketch ou freestyle?

Para os characters levo sempre a referência, para os letterings quase nunca uso sketch,

aproveito sempre para fugir ao trabalho mais metódico e para me exprimir sem guias quando vou dar letras.

O que toca na tua playlist quando pintas?

O género musical é sempre hip-hop / rap. Agora em termos de artistas já dependo muito do mood em que estou... Eu cresci a ouvir rap tuga, identifico-me muito com Dealema e todos os seus elementos, assim como outros artistas como Barrako 27, Mind da Gap, Sam the Kid, Valete, Regula, Keso, Virtus, Enigma e toda a crew de “6º sentido”, Berna, LCR, Allen Halloween, XEG, Slow J e muitos outros do panorama do Rap Nacional. Tenho também uma coleção de CD’s com maior parte dos grandes clássicos daquela geração de rappers. Hoje em dia ouço pouco Rap Tuga, mas essa seria uma conversa para mais tarde.

Neste momento ouço muito Rap Brasileiro, alguns dos clássicos que ouvia antes como

Racionais Mc’s, Mano Brown e outros mas principalmente rappers da nova escola como Froid, Xamã, Dk47, Jean Tassy, Yago Oproprio, Zaratrusta, Crónicas de um Babaca, Rô Rosa, entre muitos outros.

Qual é o melhor parceiro de pinturas?

Tenho 2 parceiros inquestionáveis nas pinturas, um é o Rose e o outro o Solo.

O Rose é um amigo de longa data que começou pouco tempo depois de mim e a nossa

história como amigos e parceiros de graff é bem longa. Não o referi antes porque não

respondia às perguntas que me colocaste mas faz claramente parte da minha história de vida e do graff, temos imensas pinturas e momentos juntos e é uma honra poder partilhar tudo isso com ele. São mais de 20 anos juntos. O Rose é, neste momento, o maior Bomber das redondezas, tem mais de mil peças, e podemos ver a tag dele em qualquer lado dentro da cidade e também na sua periferia. É, sem dúvida, o NOME do graffiti na nossa zona.

O Solo é também um dos meus melhores amigos de vida, mesmo não tendo uma grande história no graff, é um apaixonado pela cultura e é uma ótima companhia de pinturas e também o meu braço direito a nível profissional. Para além das paredes ilegais que pintamos, é quem me acompanha nos meus trabalhos comissionados e é, sem dúvida, um sonhador que me faz sonhar também, sempre apto para ajudar. Enfim, é alguém fácil de amar e carinhosamente o “meu irmão mais novo”.

Como descreves o panorama atual do graffiti em Portugal?

Eu acho que o panorama atual do graffiti está num bom caminho. Hoje há mais acesso e menos estereótipos negativos, o que faz com que exista muito mais liberdade para pintar. Em termos profissionais, costumo dizer que vivemos no século certo para se ser “artista”, finalmente “valorizados” e com a hipótese de “vivermos disto”. Assim como, a cultura Hip Hop, o Graffiti e, claro, a Arte Urbana vivem hoje a sua melhor fase e eu sou eternamente grato por poder usufruir dela.

Que diferenças encontras entre o norte, a grande Lisboa e o sul?

Acho que, como em tudo, Portugal tem as suas diferenças... Mas, felizmente, vejo hoje a cultura do graffiti muito bem espalhada no geral. Antigamente era tudo muito concentrado nas grandes cidades como Porto e Lisboa e hoje já vemos quase todas as cidades rendidas a esta expressão artística. Lisboa sempre esteve mais à frente, principalmente na evolução da Arte Urbana, porque em termos de Graffiti acho que o Porto sempre equilibrou bem essa balança, mas na Arte Urbana sentia muitas diferenças. Felizmente, hoje em dia acho que todo o país, de uma forma geral, abriu espaço para a Arte Urbana e que já é raro a cidade que não aposte nesta expressão. Em relação ao graffiti diretamente, também acho que está mais forte, mais acesso,

mais liberdade, menos opressão e maior facilidade de execução, exceto nos comboios, que se tornaram ainda mais difíceis de pintar.

Qual é o teu top 3 de writers / artistas portugueses?

Não consigo não separar esta resposta... Na arte no seu todo, acho que nomes como VHILS, BORDALO, DHEO e ODEITH, por aquilo que conquistaram a nível Mundial e Artístico, nunca podem faltar nesta resposta.

E, claro, no graffiti diria sempre FYND e SEN como pais da verdadeira cultura bombing e aponto a crew GMB como terceiro, por toda a importância e relevância na história da cultura. Claro que gostava de deixar tantos outros nomes e reduzir apenas a três numa lista tão grande não me satisfaz de todo.

E de writers / artistas estrangeiros?

Sempre me inspirei muito na cultura a nível nacional mas, claro, há nomes que não esqueço a nível mundial. Entre eles CAN2, SEEN,OBEY, COPE2, JA, KOBRA, BOND, SAUTE, 1UP, MSK e muitos outros. Alguns nomes mais recentes que também aprecio muito são INSANE51, JEKS, DRIDALI, ZABOU, DAVIDPOPA e tantos, tantos outros.

Fora do contexto do graffiti, não posso deixar de referir, entre outros, M.C ESCHER e o jogo de PC GETTING UP – MARC ECKO, bastante importantes na minha caminhada.

Quais são os teus planos / projetos futuros?

Não faço grandes projetos futuros, gosto de criar poucas expectativas, para me proteger e como mecanismo de defesa para nunca me sentir fracassado.

Por essa razão, ando concentrado nos projetos que tenho de fazer hoje, sem colocar a minha visão no futuro e de maneira a fazer o meu percurso, no mundo geral e das Artes, de uma forma agradável e que me leve a coisas boas sem grandes ostentações.

Tenho a vontade de um dia ser convidado para pintar fora do país mas não tenho pressa. Como diria o poeta e escritor Fernando Pessoa, “o caminho faz-se caminhando”.

Pensas vir a fazer uma exposição com as tuas personagens?

É uma hipótese mas não sei se alguma vez irá acontecer. As personagens acabam por fazer parte de uma exposição a céu aberto nas ruas e estão disponíveis a todos sem exceções e por essa razão creio que se voltar a ter a oportunidade de fazer uma exposição vou optar por apresentar a minha arte através de outros pontos de vista. Eu não tenho as personagens como o centro da minha Arte mas sim como uma forma fácil e direta de me apresentar e de comunicar com o público.

Tens alguma história engraçada para contar?

Esta resposta daria um livro.

Quem pinta sabe perfeitamente que somos pintores e acumuladores de histórias e, por isso, tenho imensas coisas que poderia contar, umas engraçadas e outras nem tanto. Lembro-me de saltar da janela do meu quarto com 13 / 14 anos e ir pintar de noite sem a minha mãe saber, assim como de correr muito para fugir das sirenes, vezes sem conta. Lembro-me de casas abandonadas, quedas, “autos” de invasão e de dano de propriedade alheia, sei lá, saltos, trepar paredes, corridas no escuro, ficar escondido, de falar com pessoal que aparece, de gente boa e gente chunga, tanta mas tanta coisa...

Agora, para tentar ser breve, vou deixar uma pequena história que deixou uma marca para sempre no meu corpo. Devíamos estar por volta de 2014 / 15, ia pintar um spot aqui na zona com o meu mano ROSE. Era um centro de saúde abandonado, de noite e bastante frequentado por toxicodependentes e fora esses perigos inerentes eu consegui criar o meu próprio perigo. Subi o muro para entrar e, assim que dei o primeiro passo, caí numa tampa de saneamento aberta, bastante enferrujada por sinal, e o que aconteceu foi que a minha canela travou a queda total, fiz um pequeno rasgo nas calças e um buraco bem grande na pele.

Sangrava muito e doía ainda mais, mas mesmo assim fomos dar outra parede na linha de metro ali próximo. No final, fui para casa a mancar, a sangrar e com dores, até no dia seguinte acordar com a cama cheia de sangue e ter de ir ao hospital. Conclusão, fiz um buraco na canela que quase mostrava o osso, tive quase que tirar “carne” de outro local para poder enxertar e andei semanas e semanas a cuidar da brincadeira. Ainda hoje é um buraco claramente visível e que deixou uma história para contar. Por isso, olhos bem abertos.

Props?

Quero deixar um props a todos os que gostam e valorizam o meu trabalho, a toda a minha família e amigos por me suportarem e por gerarem a força de lutar pelo que amo e, claro, a toda a cultura Hip-Hop e todos os seus integrantes, pela educação e valores que me transmitem e transmitiram.

Para todos aqueles que representam o Graff e se revêm neste modo de vida, todo o meu apoio e amor incondicional, a CULTURA VIVE PORQUE NÓS VIVEMOS NELA!

Fotografias / Photos: Anke1

ENG

It was in 2009/2010 that ANKE 1 became interested in graffiti, which he discovered through a friend.

At first the desire was to spread the name/tag, but increasingly your taste leans towards the characters.

The artist uses walls and vacant buildings in Vila do Conde and Póvoa do Varzim as canvases for his drawings.

The characters from children's imagination (which are taken from cartoons and comics) are painted by Anke 1 in the most unlikely places and are almost always accompanied by positive messages, as if greeting those who pass by them.

Garfield, Tom and Jerry, Lucky Luke, Road Runner and Coyote, Snoopy or Bugs Bunny are some of the cartoons already represented in this open-air exhibition, which also serves as a catalog for the artist's commissioned works.

The spirit of graffiti remains (the nightlife, the transgression, the painting in the best spot in the area), but the characters are more easily accepted by the general population.

Another interview with Northern pronunciation.

What does your tag mean?

I wish I had a good story to tell, but the truth is that there are only four letters chosen at random. My first tag was Nug and then Solu until later I switched to Anke. The basic idea, when I discovered graffiti, was to have a simple tag, with few letters, usually between 3 and 5 letters, with the aim of being able to quickly paint it on any wall.  

Do you have training in art?

I have no artistic training, my study is entirely self-taught.

When did your interest in graffiti begin and what were your influences at the time?

I started very young, around 12 years old (in 2009/2010). At that time I met a friend who introduced me to graffiti, his tag was Fuse and his nickname was Zuka. We formed my first crew (BNSK) and I have lots of good memories and stories from that beginning, which lasted a few years until he went to Brazil in 2014.

My brother also always listened to hip hop and ended up passing that taste on to me, I think this early connection with hip hop culture also led me to graff.

When I started, I had several influences in my city (Vila do Conde), names like SUB and NYPE and all the members of FBIG, as well as ZECU / XUI, DNA, BRTS, FUSE, among others. And of course, within Porto's graffiti culture there are many important names such as FYND, GMB, DTOS, TRIP, SYZE, GONE, SEKA, AORE, SKTR, ALQ, MTS, DUB, AERO, AMR, NAKE, AC'S, DHEO, DEXA and so many, many other names. On a national level, I remember a lot about SEN, NOMEN, YOUTH, BLUBLAS, HIER, COLA, TRAVIS.

In which spots/cities do you like to paint?

My favorite city to paint is Vila do Conde, it's the city where I live and where I believe I can make a difference. One of my best friends told me a phrase that I turned into a life maxim that was “Why do you want to be small in a big city if you can be big in a small city”. Of course I paint anywhere, it depends on the moment, but as my favorite I choose my city.

When it comes to spots, I follow Graff's 1st law: "My name (tag) is in the best spot in the area”. If you do graffiti, you want your tag to be seen, for people to know your name. Normally we associate a writer to your name and not to your face and that's the thing, I want my name on the wall that's the hardest to paint and the most seen in each area.

What drives you these days? Street bombing, train bombing or wall of fame?

I'm very phased, because although today I work a lot with graffiti aka painting walls, this is not the only form of artistic expression that I practice and that's why I spend long periods without painting on the street. In any case, at the moment, my name is very associated with the dolls with the messages and that's why I don't put it on any wall.

But to answer the question directly, when I have time, I do some Fames in abandoned or authorized places, relaxed and with friends and otherwise I would say I focus on Street Bombing. Of course it's a difficult conversation in the “graff world”, because I don't write letters, I make puppets, but... my ideology is the same. IT'S ILLEGAL, I try to place them in the best spot in the area, they represent my name (tag), they make the task difficult because it takes me more than twice as long as if I sent a lettering and, the best part, I feel the same adrenaline from bombing when I'm painting. For these reasons, I believe I never stopped being a BOMBER, I just changed the visual context of how I present myself, the rest is all there.

As you mentioned, you are known for your characters. Do you prefer characters or lettering?

I like both a lot. I think the difference is that characters are more easily accepted by the general population and letterings are mostly from the Graffiti culture niche, which is why they end up having a negative connotation among people. Even when I combine the 2, I think people undervalue lyrics a lot. Now, in my opinion, they end up being different scenes with different objectives.

Personally, I like paint characters, I like paint letters and I like do it both together.  

What is your creative process like and where do you get inspiration for your characters?

For me, the theory of creativity remains very difficult to understand, I'm always studying it, trying to learn how to control it and make it better, but it's a long way. But even with all this insistence on improving the creative process, I continue to believe that the greatest creativity comes from the least effort.

I don't have a single method for character inspiration, sometimes it's depending on the spot, sometimes it's depending on the colors I have, sometimes it's because of the time I have to spend in the spot, sometimes it's because I saw and remembered the character, others are pointed out in the notes, others from some people who give ideas. Ultimately, both the dolls and the phrases derive from many external factors. I often decide everything on the spot, others have a whole plan. Anyway, countless situations.

Which one did you enjoy painting the most?

I think each piece has its own “joy”, its story and in a way each one is special. So much has happened to me. But, of course, I remember with pleasure the first time I made a puppet on the street; it was the coyote from Looney Tunes who held a sign saying “Good Morning” on a wall very close to where I live. This one has a special flavor because it was then that I realized that I could maintain the whole Bombing attitude, feel that adrenaline, feel like doing graffiti in a way that most people wouldn't “hate”, which would allow me to associate my tag to my face without putting my work and my Professional Art at risk.

What are the ingredients for a good painting day?

I think a good painting day is when you do that half-legal, half-illegal wall of fame, with all your friends, a barbecue, some beers, lots of paint and everyone putting their tags on the wall. This is that classic day, which happens rarely, which makes it more memorable. Of course, a solo painting during the day with some phones and after the 'anti-police' prayer is also a special classic, but, from my experience, if it's a very busy street, it's better at night.

Do you paint with sketch or freestyle?

For characters I always take the reference, for letterings I almost never use sketch, I always take the opportunity to escape from more methodical work and to express myself without guides when I write lyrics.

What plays on your playlist when you paint?

The musical genre is always hip-hop/rap. Now in terms of artists, I really depend on the mood I'm in... I grew up listening to tuga rap, I identify a lot with Dealema and all its elements, as well as other artists like Barrako 27, Mind da Gap, Sam the Kid , Valete, Regula, Keso, Virtus, Enigma and the entire “6th Sense” crew, Berna, LCR, Allen Halloween, XEG, Slow J and many others from the National Rap scene. I also have a collection of CDs with most of the great classics from that generation of rappers. Nowadays I don't listen to much of Rap Tuga, but that would be a conversation for later.

Right now I listen to a lot of Brazilian Rap, some of the classics I heard before like Racionais Mc’s, Mano Brown and others but mainly rappers from the new school such as Froid, Xamã, Dk47, Jean Tassy, ​​Yago Oproprio, Zaratrusta, Crónicas de um Babaca, Rô Rosa, among many others.

Who is the best painting partner?

I have 2 unquestionable partners in the paintings, one is Rose and the other is Solo.

Rose is a long-time friend who started shortly after me and our History as friends and graff partners is quite long. I didn't mention it before because I didn't I answered the questions you asked me but it is clearly part of my life story and that of Graff, we have lots of paintings and moments together and it is an honor to be able to share all of this with him. It's been more than 20 years together. Rose is, at the moment, the biggest Bomber in the area, he has more than a thousand pieces, and we can see his tag anywhere in the city and also on its outskirts. It is, without a doubt, the NAME of graffiti in our area.

Solo is also one of my best friends in life, even though he doesn't have a great history in graffiti, he is passionate about culture and is a great painting company and also my right-hand man on a professional level. In addition to the illegal walls we paint, he is the one who accompanies me in my commissioned work and is, without a doubt, a dreamer who makes me dream too, always ready to help. Anyway, he is someone easy to love and affectionately “my little brother”.

How do you describe the current panorama of graffiti in Portugal?

I think the current graffiti scene is in a good direction. Today there is more access and fewer negative stereotypes, which means there is much more freedom to paint. In professional terms, I usually say that we live in the right century to be an “artist”, finally “valued” and with the chance to “make a living from this”. Just like Hip Hop culture, Graffiti and, of course, Urban Art are experiencing their best phase today and I am eternally grateful for being able to enjoy them.  

What differences do you find between the north, greater Lisbon and the south?

I think that, as with everything, Portugal has its differences... But, fortunately, today I see graffiti culture very well spread in general. In the past, everything was very concentrated in big cities like Porto and Lisbon and today we see almost all cities surrendering to this artistic expression. Lisbon has always been further ahead, especially in the evolution of Urban Art, because in terms of Graffiti I think Porto has always balanced the scales well, but in Urban Art there were many differences. Fortunately, nowadays I think that the entire country, in general, has made space for Urban Art and that it is rare for a city that does not invest in this expression. In relation to graffiti directly, I also think it is stronger, more accessible, more freedom, less oppression and greater ease of execution, except for trains, which became even more difficult to paint.

What is your top 3 Portuguese writers/artists?

I can't help but separate this answer... In art as a whole, I think that names like VHILS, BORDALO, DHEO and ODEITH, for what they have achieved at a World and Artistic level, can never be missing from this answer.

And, of course, in graffiti I would always say FYND and SEN as the fathers of true bombing culture and I point to the GMB crew as third, for all their importance and relevance in the history of the culture. Of course, I would like to leave so many other names and reducing it to just three in such a long list does not satisfy me at all.

And foreign writers/artists?

I've always been very inspired by culture on a national level but, of course, there are names that I won't forget on a global level. Among them CAN2, SEEN,OBEY, COPE2, JA, KOBRA, BOND, SAUTE, 1UP, MSK and many others. Some more recent names that I also really appreciate are INSANE51, JEKS, DRIDALI, ZABOU, DAVIDPOPA and many, many others.

Outside the context of graffiti, I cannot fail to mention, among others, M.C ESCHER and the PC game GETTING UP – MARC ECKO, which are very important in my journey.

What are your future plans/projects?

I don't do big future projects, I like to create low expectations, to protect myself and as a defense mechanism to never feel like a failure.

For this reason, I am concentrating on the projects I have to do today, without placing my vision on the future and in order to make my journey, in the general world and in the Arts, in a pleasant way and that leads me to good things without major ostentations.

I want to one day be invited to paint abroad but I'm in no rush. As the poet and writer Fernando Pessoa would say, “the path is made by walking”.

Do you plan on doing an exhibition with your characters?

It's a hypothesis but I don't know if it will ever happen. The characters end up being part of an open-air exhibition on the streets and are available to everyone without exception and for this reason I believe that if I have the opportunity to do an exhibition again, I will choose to present my art through other points of interest. view. I don't see characters as the center of my Art, but rather as an easy and direct way of presenting myself and communicating with the public.

Do you have a funny story to tell?

This answer would fill a book.

Anyone who paints knows perfectly well that we are painters and story accumulators and, therefore, I have lots of things I could tell, some funny and others not so much. I remember jumping out of my bedroom window when I was 13/14 and going to paint at night without my mother knowing, as well as running a lot to escape the sirens, over and over again. I remember abandoned houses, falls, invasions and damage to other people's property, I don't know, jumping, climbing walls, running in the dark, staying hidden, talking to people who appear, good people and bad people, so much, so much...

Now, to try to be brief, I'm going to leave a small story that left a forever mark on my body. We must have been around 2014/15, I was going to paint a spot here in the area with my brother ROSE. It was an abandoned health center, at night and very frequented by drug addicts and apart from these inherent dangers I managed to create my own danger. I climbed the wall to get in and, as soon as I took the first step, I fell onto an open drain lid, quite rusty by the way, and what happened was that my shin stopped my total fall, I made a small tear in my pants and a big hole on the skin.

It was bleeding a lot and it hurt even more, but we still went to another wall on the nearby metro line. In the end, I went home limping, bleeding and in pain, until the next day I woke up with a bed full of blood and had to go to the hospital. In conclusion, I made a hole in the shin that almost showed the bone, I almost had to remove “meat” from another place to be able to graft it and I spent weeks and weeks taking care of the game. Even today it is a clearly visible hole that left a story to tell. So, eyes wide open.

Greetings / Thanks?

I want to leave a props to everyone who likes and values ​​my work, to all my family and friends for supporting me and for generating the strength to fight for what I love and, of course, to the entire Hip-Hop culture and all its members, for the education and values ​​they transmit to me and have transmitted.

For all those who represent Graff and see themselves in this way of life, all my support and unconditional love, CULTURE LIVES BECAUSE WE LIVE IN IT!